Brasília, 19 de junho de 2024 – A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) não poupou críticas à encenação antiaborto realizada na Casa Alta na última segunda-feira (17). Durante um debate acalorado sobre o procedimento de assistolia fetal, usado na interrupção da gravidez nos casos de aborto previstos em lei, a contadora de histórias Nyedja Gennari fez uma dramatização que foi transmitida ao vivo pela TV Senado e causou grande repercussão.
Na terça-feira (18), Thronicke, visivelmente indignada, lançou um desafio provocativo a Gennari. “Eu queria até o telefone, o contato, daquela senhora que esteve aqui ontem, encenando aquilo que nós vimos”, iniciou a senadora. “Sabe por quê? Porque eu quero ver ela encenando a filha, a neta, a mãe, a avó, a esposa de um parlamentar sendo estuprada. Se encenaram um homicídio aqui ontem, que encenem o estupro”, disparou.
As palavras contundentes de Thronicke evidenciam sua insatisfação com a forma como o tema do aborto foi abordado. “Pergunto para vocês: se é a filha de um parlamentar aqui, com 10 anos, com 11 anos, com 18 anos, com 20 anos, que é estuprada, esse parlamentar, diante de um flagrante delito, é obrigado a denunciar. Ele vai fazer o quê? Vai denunciar a filha para 20 anos de cadeia?”, questionou, provocando um silêncio tenso no plenário.
A senadora foi além, colocando os próprios parlamentares em uma posição hipotética desconfortável. “E se a mulher de um parlamentar for estuprada e engravidar? Se essa mulher engravidar, então este parlamentar vai fazer o quê? Vai levar a termo a gestação. […] Ele vai acompanhar a gravidez decorrente do estupro na esposa dele e vai dar toda a atenção. No dia em que nascer, ele vai escolher se assume essa criança ou se ele a dá para a adoção.”
Assista:
Soraya Thronicke aproveitou o momento para criticar a hipocrisia que, segundo ela, permeia o debate sobre o aborto. “O SUS banca a vasectomia para quem quiser fazer, pois ninguém delibera sobre o corpo dos homens”, destacou, argumentando que o controle sobre o corpo das mulheres é frequentemente discutido e legislado de forma muito mais rigorosa.
Concluindo sua fala, Thronicke reafirmou sua posição contra o aborto, alinhando-se à legislação brasileira, que permite o procedimento em apenas três exceções: quando a gestação é resultado de estupro, para salvar a vida da mulher e em casos de anencefalia fetal. “É uma questão complexa e delicada, mas não podemos tratar com encenações simplistas e chocantes que não refletem a realidade dos casos mais difíceis”, finalizou.
A encenação de Nyedja Gennari e a reação de Soraya Thronicke prometem manter o debate sobre o aborto em alta no Senado, reacendendo discussões éticas e legais que dividem opiniões dentro e fora do Congresso.