Um ataque a tiros ocorrido na Escola Estadual Sapopemba, localizada na zona leste de São Paulo, chocou o Brasil e gerou um amplo debate sobre o papel das redes sociais e grupos online na promoção da violência. O Metrópoles obteve prints de mensagens que revelam que o autor do ataque, um adolescente de 16 anos, foi influenciado e instruído por integrantes de um grupo no Discord, uma plataforma de conversas em texto, voz e vídeo popular entre os jovens.
Preparativos e Influência do Grupo
Horas antes do ataque, o adolescente compartilhou mensagens no grupo do Discord, discutindo os preparativos para o que ele chamou de uma “missão”. Ele também mencionou sua intenção de filmar e transmitir o atentado pelo servidor. Membros do grupo incentivaram e deram instruções sobre como ele deveria posicionar o celular para a transmissão ao vivo. Após o ataque, alguns integrantes lamentaram as vítimas, e houve preocupação em relação à possibilidade de serem descobertos pela polícia.
As conversas estão agora em posse da Polícia Civil de São Paulo e do Laboratório de Crimes Cibernéticos do Ministério da Justiça, que estão investigando como esses integrantes do grupo no Discord influenciaram o adolescente a cometer o ataque. O atirador usou um revólver calibre 38 de seu pai, sendo apreendido posteriormente e fornecendo versões conflitantes sobre a motivação do atentado.
As mensagens indicam que o autor compartilhou fotos da escola onde estudava para obter dicas de como executar o crime. Isso inclui imagens da sala de aula onde ele entrou armado e das escadas onde disparou contra a estudante Giovanna Bezerra da Silva, de 17 anos, à queima-roupa, matando-a com um tiro na nuca.
“Fiz ele fazer esse massacre”
Em uma reviravolta perturbadora, um integrante do grupo admitiu ter ajudado o adolescente a cometer o atentado, afirmando: “Fiz ele fazer esse massacre”. Esta confissão ressalta a influência maligna e a cumplicidade desses grupos no incentivo à violência.
Decepção e Comparação com Outros Atentados
Os membros do grupo demonstraram decepção em relação ao saldo do atentado na Escola Estadual Sapopemba. Alguns mencionaram o massacre de Columbine nos EUA, que deixou 15 mortos em 1999, e afirmaram que o adolescente deveria ter causado mais vítimas. A aparente insensibilidade desses comentários é alarmante e destaca a necessidade de investigação sobre a influência desses grupos no incentivo à violência.
Medo da Repercussão e Uso de VPN
Após o atentado, membros do grupo discutiram maneiras de se livrar de evidências de envolvimento no crime. Alguns afirmaram usar VPNs (redes privadas virtuais) para acessar o grupo por meio de endereços IP de outros estados, dificultando o rastreamento. O administrador do grupo informou que o adolescente foi banido.
Histórico do Atirador
Segundo pais e alunos da escola, o adolescente havia ameaçado “matar todo mundo na escola” na semana anterior ao atentado. Relatos também indicam que ele era alvo de bullying e agressões dentro da escola. Um vídeo que circulou no grupo do Discord mostrava o jovem sendo agredido em sala de aula, e a mãe do adolescente havia registrado um boletim de ocorrência anteriormente por lesão corporal e ameaça.
No entanto, o secretário estadual da Educação, Renato Feder, afirmou que a pasta não tinha conhecimento das ameaças feitas pelo autor do atentado e que o adolescente “não apresentava sinais no sentido de ser um potencial agressor”.
Posição do Discord
O Discord, plataforma onde ocorreram essas conversas, afirmou que possui “políticas rigorosas contra atividades que promovam a violência” e que, quando identificam conteúdo prejudicial, investigam e tomam medidas, incluindo a remoção de conteúdo, banimento de usuários e desativação de servidores. Eles também se comprometeram a cooperar com as autoridades locais para criar um ambiente positivo e seguro para os usuários no Brasil.
O caso da Escola Estadual Sapopemba levanta sérias questões sobre a responsabilidade das plataformas online em monitorar e evitar o incentivo à violência. Além disso, destaca a importância de um trabalho conjunto entre autoridades, instituições educacionais e comunidades para identificar e intervir em casos potenciais de violência antes que ocorram tragédias como essa.