A mais nova modalidade de turismo de luxo nĂŁo tem nada de mordomia. Pelo contrĂĄrio! Pessoas de alto padrĂŁo de vida estĂŁo pagando para sair da sua zona de conforto e ficar perdidas em locais isolados, muitas vezes inĂłspitos. Uma das empresas que organizam esse tipo de viagem Ă© a Black Tomato. Um dos destinos sĂŁo os Montes Atlas (Marrocos). O guia Ă© um ex-fuzileiro britĂąnico chamado Phil Asher. Ele ensina estratĂ©gias de sobrevivĂȘncia e abandona o cliente “no meio do nada”, nas alturas. O objetivo Ă© voltar Ă “civilização” em um determinado perĂodo de tempo, estipulado pela agĂȘncia. Barraca e telefone sĂŁo proibidos.
Os pacotes podem custar atĂ© R$ 83 mil. AlĂ©m das montanhas do Marrocos, os clientes do programa turĂstico “Perca-se” podem optar por serem deixados sozinhos nas estepes da MongĂłlia, nas selvas da Costa Rica e nos desertos da NamĂbia, entre outros lugares “convidativos”.
O escritor Ed Caesar, de Manchester (Inglaterra), escreveu Ă “New Yorker” um relato sobre a experiĂȘncia de ter sido abandonado nos Montes Atlas:
“Tive dois dias para caminhar pelas montanhas atĂ© um ponto de encontro a 29 quilĂŽmetros de distĂąncia. Eu havia enchido minha mochila com tudo que achei que poderia precisar, dentro das diretrizes rĂgidas estabelecidas por Asher: sem fĂłsforos, sem barraca, sem telefone. Minha mochila continha roupas, mapas de papel, uma bĂșssola, dois G.P.S. rastreadores, pilhas sobressalentes, blocos de notas e canetas, uma grande faca, um saco de dormir, lanternas, equipamento de iluminação de fogo, comida desidratada, alguns lanches ricos em energia, trĂȘs litros de ĂĄgua, um abrigo contra mosquitos, uma esteira rolante e uma lona . Eu tambĂ©m carregava um velho aparelho Samsung com o cartĂŁo SIM removido, para que eu pudesse tirar fotos. Asher calculou que minha bolsa pesava 23 quilos. Eu faria uma caminhada de dois dias, em altitude, com o equivalente a minha filha de seis anos amarrada Ă s minhas costas.”
HĂĄ um botĂŁo de SOS para o caso de emergĂȘncia, mas isso Ă© a Ășltima coisa que os turistas querem acionar.
Depois de passar por muitas dificuldades, Ed, que nunca foi fĂŁ de viagens para acampar, conseguiu cumprir a missĂŁo que Asher lhe passara, chegando ao vilarejo de Ichazzoun, onde estava acontecendo um casamento. O escritor acabou convidado e parabenizado por ter completado a missĂŁo. Foi quando soube que Asher o acompanhava a uma distĂąncia segura, para nĂŁo ser notado, o tempo todo.
“De repente, eu nĂŁo queria que a experiĂȘncia terminasse. Eu diminuĂ a velocidade, para me deleitar com meus Ășltimos minutos de simplicidade. Eventualmente, eu fiz uma curva e vi Asher empoleirado em uma das escarpas com vista para o vale”, relatou. “Ele disse: ‘VocĂȘ deveria estar orgulhoso’. E eu estava”, completou.
Após o término da expedição, os clientes recebem mimos em um belo hotel antes de voar de volta para casa. Mas, dizem, a vida nunca mais é a mesma. Ed passou duas noites no hotel Dar Ahlam, um oåsis no meio do deserto.
